Rene Burri |
É o registro do fim de uma forma inevitável de trabalho para os
fotógrafos da mais celebrada agência de fotojornalistas do mundo, mas
não se poderia desejar um epitáfio melhor. Antes que as câmeras digitais
começassem a circular pelo mundo, as folhas de contato como registro
das imagens capturadas pelos profissionais da Magnum constituíam não só a
primeira impressão que tinham de seu trabalho. Elas eram a própria
visão do processo criativo desses fotógrafos, como lembra a organizadora
do livro “Magnum – Contatos”, Kristen Lubben, curadora do International
Center of Photography de Nova York (ICP).
Publicado na Alemanha, França, Inglaterra e EUA, o livro será lançado
nesta terça-feira com uma exposição na loja do Instituto Moreira
Salles/Livraria Cultura do Conjunto Nacional. Ele traz 139 folhas de
contato de 69 fotógrafos da agência, reunindo 435 antológicas imagens
registradas nos últimos 70 anos. Publicado pelo IMS, o livro, organizado
de forma cronológica, traz desde os pioneiros fundadores da agência,
como Henri Cartier-Bresson (1908-2004) e Robert Capa (1913-1954), até a
última geração da Magnum (Alessandra Sanguinetti, Alec Soth), passando
pelos veteranos Raymond Depardon e Thomas Hoepker, autor da mais
polêmica foto dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001.
O valor histórico dessas fotos levou à escolha da curadora do ICP
para editar o livro, motivada pela ligação estreita de seus projetos
anteriores com o tema, um com Susan Meiselas (History) e outro sobre o
processo de edição e circulação de imagens (Amelia Earhart: Image and
Icon). Com a ajuda do inglês Martin Parr, da Magnum e presente no livro,
a curadora Kristen Lubben fez com ele o esboço da edição em Paris. Não
por nostalgia, mas para marcar o “epitáfio” da folha de contato,
elegeram como modelo da capa do livro a caixa da Kodak que os fotógrafos
usavam para guardar o material. Justamente no dia em que anunciaram a
falência da companhia, abriu-se a exposição associada ao livro.
Pense numa foto histórica marcante e ela certamente está entre as 435
imagens do livro, do desembarque na Normandia, em 1944, registrado pelo
húngaro Robert Capa, à guerra do Afeganistão vista pelo fotógrafo
iraniano Abbas, veterano que cobriu a Revolução Islâmica. Personagens
históricos como Che Guevara (fotografado pelo suíço René Burri em 1963) e
Martin Luther King, clicado pelo norte-americano Leonard Freed
(1929-2006), surgem ao lado de imagens insólitas como a de monges
budistas rezando diante da rocha dourada de Kyaiktiyo, na Birmânia, que
se equilibra num precipício não se sabe como. Ela exigiu do fotógrafo
japonês Hiroji Kubota uma viagem num trem superlotado que partia de
Rangun para um lugar onde estrangeiros costumam ser sequestrados.
Até 2000, os fotógrafos interessados em entrar na Magnum precisavam
mostrar folhas de seus contatos, além das cópias acabadas. Estabelecida
em 1947 como uma cooperativa, ela gerou um modelo de trabalho no qual os
contatos tinham um papel fundamental. Eles revelavam como os fotógrafos
“pensavam”, segundo o veterano John Morris, 98 anos, ex-editor
executivo da agência.
MAGNUM - CONTATOS
Livraria Cultura (Av. Paulista, 2.073). Tel. (011) 3170-4033. Terça, 19h30. Preço: R$ 190Fonte: Estadão
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